sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Rezar sem desânimo


Devemos rezar sempre, orar sem desanimar, a todo o momento. Moisés sobe à colina e até ao pôr do sol mantém as mãos levantadas para o Senhor; quer dizer, reza. Reza todo o dia e, quando se sente cansado, pede aos amigos que lhe sustenham os braços para poder continuar a rezar. Que bela imagem de oração perseverante!
A oração nasce da fé. Há um elo «existencial» entre a fé e a oração. Não podemos colocar a oração no mesmo plano de um passatempo facultativo: ela é a fonte e o alimento da nossa fé. Quanto maior for a nossa intimidade com Deus pela oração, mais viva e contínua se torna a presença de Deus na nossa vida e portanto, mais viva é a nossa fé.
«É na oração, dizia João Paulo II, que descobrimos a presença de Deus na nossa alma, que ouvimos a Sua voz que fala através da nossa consciência… Começamos a ver, a sentir, a julgar as coisas como Jesus as vê, as sente, as julga e ama.» Por isso, orar não é fugir à vida real. «Através da oração encontraremos Jesus connosco em todos os acontecimentos da nossa vida»
Orar é uma necessidade, faz parte substancial da própria vida do cristão. O Santo Cura de Ars dizia que a oração é para a nossa alma aquilo que a chuva é para a terra: «Adubai-a o mais que puderdes; se faltar a chuva tudo quanto fizerdes de nada serve».

sábado, 9 de outubro de 2010

Domingo XXVIII do Tempo Comum, ano C

A lepra era considerada um dos piores castigos de Deus. Achava-se, na mentalidade errada da época, que Deus punia com a lepra os piores pecadores. Os leprosos eram considerados impuros, eram corridos à pedrada, viviam em lugares à parte, lugares impuros como os cemitérios. Sentiam-se rejeitados por todos: pelos homens e até por Deus.
Na 1ª leitura, Naamã é um general estrangeiro (sírio) que, leproso, recorre a Eliseu. Eliseu nem sequer se dignou vir à porta saudá-lo, mandou um criado dizer-lhe que se fosse banhar sete vezes no Jordão. Naamã ficou indignado e queria vir-se embora, mas acabou por cumprir o que o profeta lhe mandou fazer, depois de o terem convencido que não tinha a perder nada. E Naamã é curado não só da lepra da pele, mas também e principalmente da lepra da alma, porque se converteu do paganismo à fé no Deus Vivo.
No Evangelho 10 leprosos suplicam a Jesus por piedade mantendo-se à distância, como mandavam as regras de saúde e de pureza legal religiosa. Os judeus e os samaritanos não se davam, eram inimigos, mas a desgraça da lepra une judeus e samaritanos. Quando são saudáveis combatem-se; mas a consciência da sua desgraça comum torna-os solidários. A sua oração é comunitária: eles vão ter com Jesus juntos, não vai cada um por si; a salvação não é individualista, não é o intimismo do “cada um por si”. Tanto na 1ª leitura como no Evangelho o curado que se mostra agradecido é um estrangeiro: uma vez mais, os estranhos estão mais dispostos a dar glória a Deus do que os filhos do seu Povo. O estrangeiro é símbolo daquele que é diferente de nós e nos causa desconfiança, por ser desconhecido; mas é a nossa cegueira que nos impede de ver a sua riqueza. Foi o único a perceber que a oração não é só pedir e nunca é chantagem, mas é sobretudo acção de graças.
O número 10 significa a totalidade (os 10 dedos das mãos): os 10 leprosos são a humanidade inteira, que está distante de Deus (suplicam a Jesus mantendo-se à distância), porque todos nós somos impuros. Ora, a Palavra de Jesus é eficaz, actua à distância, eles não precisam de se aproximar. Por vezes, sentimos Deus longe, tal como as comunidades para quem S. Lucas escreve o Evangelho, que eram cristãos que já não tiveram o privilégio de conhecer Jesus pessoalmente. Portanto, Lucas escreve para pessoas como nós. Escreve para pessoas que se perguntam: será que Deus, lá longe no céu, se preocupa comigo? Será que Ele tem tempo para pensar em mim, ou se preocupa com o meu desespero? Será que ele ouve os nossos gritos por socorro? A Palavra de Deus é tão poderosa e eficaz que para ela não há barreiras nem distâncias. Basta que confiemos nela, porque, como diz Jesus ao samaritano curado da lepra, «a tua fé te salvou!».
Tanto na 1ª leitura como no Evangelho, a cura da lepra não é imediata: acontece ao fim de 7 banhos no Jordão ou durante o caminho. A nossa cura leva o seu tempo, a cura de qualquer mal de que soframos leva o seu tempo. Todos sofremos de lepra, isto é, todos somos impuros e estamos afastados de Deus. Todos temos na pele a marca do que sofremos e também a marca do pior que somos capazes de fazer (e fazemos de facto!). A cura acontece pelo caminho e não de repente. Na verdade, a nossa cura é sempre progressiva, não acontece de um momento para o outro. É normal que confessemos sempre os mesmo pecados, porque só fazendo caminho é que nos vamos curando, só gradualmente é que a nossa carne voltará a ser tenra como a de uma criança, como a de Naamã, depois de se banhar sete vezes. E Deus salva todos, tanto os agradecidos e como os ingratos. Cura todos gratuitamente, sabendo que apenas um voltaria para agradecer.
Pai do Céu, dá-nos um coração agradecido e ajuda-nos a viver e a agir para a tua glória. Ámen.

sábado, 11 de setembro de 2010

Domingo XXIV do Tempo Comum, ano C

Homilia
A alegria do arrependimento

As leituras deste Domingo retomam o tema do arrependimento do pecador e do perdão de Deus. A primeira leitura conta-nos como o Povo de Deus, no deserto, se desviou da Aliança que tinha firmado com o Senhor que o libertou da escravidão do Egipto. A marcha do povo hebreu pelo deserto foi lenta, penosa e cheia de sobressaltos, e, por isso, muitos dos hebreus começaram a duvidar da Palavra de Deus e do seu profeta Moisés. Influenciados e seduzidos pelas religiões dos povos vizinhos, também eles construíram um ídolo, um bezerro de ouro, à semelhança dos deuses egípcios, para lhe prestarem culto. É então que Deus chama Moisés e lhe demonstra a sua indignação: o povo desviou-se do bom caminho; é necessário que se arrependa dos seus desvarios e regresse à fidelidade, à Aliança. O profeta Moisés toma a defesa do seu povo, lembrando ao Senhor a sua misericórdia, a sua bondade, recordando-Lhe a promessa feita aos seus grandes amigos Abraão, Isaac e Israel. A atitude de Deus perante este pedido de clemência é o perdão sem reservas, completamente gratuito. Como diz a leitura, “O Senhor desistiu do mal com que tinha ameaçado o seu povo”. Porque o amor de Deus é muito maior do que a sua ira.

Na segunda leitura, da primeira Carta de São Paulo a Timóteo, o Apóstolo dá o seu próprio testemunho sobre o seu arrependimento e o perdão de Deus. São Paulo, antes de se converter, foi blasfemo e perseguiu os cristãos. Porém, arrependeu-se e recebeu não apenas o perdão das suas faltas mas também a graça divina que transformou o grande pecador num grande mensageiro do Evangelho. Não só foi perdoado como também Deus o chamou a passar de perseguidor a apóstolo! São Paulo afirma: “Eu alcancei misericórdia”.

No Evangelho de hoje Jesus conta três parábolas sobre a bondade e a misericórdia de Deus: a parábola da ovelha perdida, a parábola da dracma perdida e a parábola do filho pródigo. Jesus é censurado por acolher os pecadores, por acolher aqueles que nós consideramos os “maus”; e por isso Jesus vai demonstrar que é precisamente desses que Ele tem que Se aproximar. Como qualquer pastor que tenha perdido uma ovelha, coloca as outras em lugar seguro e aventura-se a ir procurar a que falta; e como a mulher que, ao perder uma moeda em casa, não se ocupa das outras moedas, mas ilumina a casa e limpa tudo até encontrar dracma perdida. Na parábola do filho pródigo, a resposta do Pai tanto em relação ao filho mais velho como em relação ao mais novo, é a mesma: «É preciso fazer festa, porque este filho estava morto e agora vive; estava perdido e foi encontrado». Deus revela-se, em Jesus Cristo, como Pai do amor, da festa, da alegria em acolher e perdoar. Não é o Deus juiz, sempre disposto ao castigo. Não é o Deus vingativo, não é o Deus da cólera contra os homens. Não é o Deus polícia que fiscaliza os gestos do homem. Pelo contrário, é o Deus que nos ama porque é bom. Ele ama-nos porque é bom, mesmo que nós não sejamos bons. É o Deus que não só perdoa, mas se alegra em perdoar. Perdoar é a maior alegria que Deus pode ter, e por isso diz: “Haverá grande alegria no Céu por um só pecador que se converte”. A maior alegria de Deus é perdoar, porque isso significa que recuperou o filho perdido. Ele nunca deixou de amar o filho, mesmo quando ele pecou, fugiu de casa e andou perdido. O Pai de um filho delinquente ama sempre o filho, porque é o filho, e ama-o apesar da sua vida de delinquente: não ama o estado em que o filho vive, mas ama o filho, e por isso quer que ele volte e deixe essa vida. Por isso, ver o filho voltar e perdoar-lhe é a sua maior alegria. É como a alegria de reencontrar a moeda perdida, porque nós somos o tesouro do nosso Criador!

Senhor Jesus, Tu que nos testemunhaste a proximidade de Deus que nos ama como Pai e que vive connosco, ajuda-nos a acolher todos os teus filhos como nossos irmãos. Assim seja.

sábado, 22 de maio de 2010

PRECISAMOS DE EQUILÍBRIO


Cada vez estou mais persuadido de que, na Igreja como em tudo, o equilíbrio é o maior sinal de sensatez e de sabedoria.
Não confundo moderação com indefinição ou receio. A moderação é um sintoma de serenidade e de disponibilidade para a escuta da presença de Deus.
Assim e a teor deste equilíbrio (e desta moderação), considero perigoso deslizar para os extremos.
Tão deletéria é, com efeito, uma tradição sem modernidade como uma modernidade sem tradição.
O antigo tem de estar aberto ao novo, o novo há-de estar enraízado no antigo.
Tudo a partir da fonte. Tudo com os olhos no fim.
Percebe-se a necessidade de acentuar cada um destes pólos.
Lamenta-se a ênfase nos exclusivismos. Quando se acentua a tradição contra a modernidade leva-se a que, por reacção, alguns optem por uma modernidade sem tradição.
Ao invés, quando se insiste numa modernidade contra a tradição, o resultado é que, por contraste, muitos enveredem por uma tradição sem modernidade.
Tradição com modernidade, modernidade com tradição eis, pois, a fórmula do autêntico progresso e a pauta de um caminho onde todos tenham lugar.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A morada de Deus e a vida autêntica


Ontem, enquanto passeava numa quinta muito bonita, passei por duas vezes debaixo da mesma árvore. Verde, fresca, grande. Na primeira vez estava a pensar em assuntos pessoais. Tão encafuado estava em mim que só à segunda passagem, me apercebi da beleza da árvore por que passara.
Pareceu-me então que esta pode ser uma imagem simples e ajustada do que é o pecado. Não reconhecer o poder daquilo que cada momento nos oferece, porque estamos fechados a pensar sobre nós, sem sairmos daí. Esse dentro fechado dá-nos segurança, mas faz-nos deixar a vida passar ao lado.


«Se não receberdes a circuncisão, segundo a Lei de Moisés, não podereis salvar-vos» Talvez esse problema, que nos é tão comum, também se pode encontrar nas leituras deste domingo. Nos actos dos apóstolos, “alguns homens que desceram da Judeia [e] ensinavam aos irmãos de Antioquia”, por se fecharem na segurança da lei de Moisés, não reparam na beleza que Cristo trouxe: uma lei nova que os libertava de todas as outras. Amar como Ele nos amou!
Para Paulo e Barnabé, olhar Cristo implicava sair para fora de si. Implicava que os judeus saíssem para fora de todas as prescrições. Este era o único meio de reconhecerem “a altura, a largura e a profundidade” do amor de Deus!


«Na cidade não vi nenhum templo, porque o seu templo é o Senhor Deus omnipotente e o Cordeiro. A cidade não precisa da luz do sol nem da lua, porque a glória de Deus a ilumina e a sua lâmpada é o Cordeiro.» A beleza é a única que tem a capacidade nos surpreender profundamente, tirando-nos de nós. Porque nos mostra o que nunca soubemos existir ou ver. Na cidade de Deus, a beleza traduz-se em presença e luz. A presença de Deus não se confina a um templo. A luz não se confina a um corpo celeste. O próprio Deus mostra que o seu movimento é o de sair de si. Este é o movimento do amor: sair de si. Desta saída resultam a atenção e o serviço.
Deus oferece-nos algo de muito maior, se não nos prendermos em nós mesmos. Se repartires o teu pão com os esfo­meados, se dares abrigo aos infelizes sem casa, se atenderes e vestires os nus e não des­prezares o teu irmão. Então, a tua luz surgirá como a aurora, e as tuas feridas não tardarão a cicatrizar-se (Is 58).


«Quem Me ama guardará a minha palavra e meu Pai o amará; Nós viremos a ele e faremos nele a nossa morada.» Um dos efeitos mais profundos da Palavra de Deus é o de nos fazer perceber que estamos abertos por todos os poros para o que está fora de nós: o bom, o justo, a amor. Tudo isto se encontra fora de nós, porque não se realiza sem um outro.
É desta comunhão profunda com Deus, pela palavra, que somos enviados para fora de nós. Quando estamos fora de nós, ou seja, mais preocupados com os outros que connosco próprios, mostramos o que nos habita, o que nos ocupa, o que nos motiva. Irradiamos para os outros a luz dessa morada que, inesperadamente Deus montou em nós. Somos autênticos. Só fora de nós há autenticidade.


Cristo, ao trazer a lei do amor, quer mostrar-nos a via da autenticidade: sair de nós. Ele fê-lo e dá-nos a força para o fazermos também, sem nos dispensar da tarefa de tornarmos sensata a nossa existência, de darmos sentido e carne ao que nos habita.
Onde habito eu? Dentro ou fora?

domingo, 28 de fevereiro de 2010

4º Semana de Liturgia

Vai decorrer a 4ª Semana de Pastoral Litúrgica das nossas comunidades paroquiais. É um tempo de aprofundamento desta dimensão tão fundamental da vida cristã: a celebração litúrgica. Este ano, iremos abordar o tempo litúrgico da Quaresma:

Primeira Sessão: A Dimensão Baptismal da Quaresma
– Pe. João Paulo Fernandes – Diocese de Coimbra
Segunda Sessão: A Dimensão Penitencial da Quaresma
– Pe. João Paulo Henriques – Diocese de Aveiro
Terceira Sessão: Pastoral e Espiritualidade da Quaresma
– Pe. Carlos Cabecinhas – Diocese de Leiria-Fátima

Este encontro decorrerá no Lar do Ervedal da Beira, nos dias 10, 11 e 12 de Março, começando cada sessão às 20h45 e terminando às 22h30.
Será uma forma muito interessante de viver com maior intensidade este tempo que é o tempo oportuno concedido por Deus para darmos nova vida à nossa vida.
Se estiver interessado em participar pode descarregar a ficha de inscrição aqui, e enviar até ao dia 7 de Março para a casa paroquial.